Em geral, as elites portuguesas não se distinguem por nada que tenham feito. Não têm o hábito de se elevar e, em consequência, resta-lhes empurrar o povo para baixo quando ele se chega muito perto. Vejamos, a título de exemplo, as célebres elites do PSD. Joaquim Ferreira do Amaral é elite do PSD. Antigo ministro das Obras Públicas, candidato a presidente da Câmara de Lisboa, candidato à Presidência da República. Foi ele que negociou com a Lusoponte um ruinoso acordo para as travessias do Tejo que teve de ser defendido, nos anos finais do cavaquismo, à força de cargas policiais. Hoje Ferreira do Amaral é o presidente da Lusoponte.
Rui Rio é elite do PSD. O corajoso Rui Rio, o implacável Rui Rio, desejava chegar a líder do PSD. Sabia que teria o partido na mão, se avançasse. Mas decidiu reservar-se para uma ocasião mais propícia e em que desse menos trabalho chegar a primeiro-ministro. Azar para ele. Durão Barroso é elite do PSD. Enquanto líder da oposição não tinha disponibilidade para saber se uma empresa como a Somague pagava dívidas de milhares de contos ao seu partido. Como primeiro-ministro, pediu sacrifícios aos portugueses e deixou o país nas mãos de Pedro Santana Lopes.
Existe a tentação de comentar a relevância da vitória de Luís Filipe Menezes. Mas qual? A relevância ainda não está lá. Há quem diga que Menezes não chega às eleições, há quem diga que ele não as ganha e há quem diga que ainda bem. Para já o que há a comentar não é a relevância da sua vitória mas a relevância da derrota dos seus adversários. Uma implica a outra, mas não são a mesma coisa.
Diz-se que as elites do PSD perderam por falta de comparência ou por acharem que tinham o partido na mão. Ambas as explicações significam isto: as elites do PSD, no fundo, não são tão elites quanto isso. Na tradição nacional, sempre esperaram que o seu lugar lhes fosse guardado e cedido: no conselho de administração como no conselho de ministros. Nos intervalos do poder, escolhiam um caseiro para tomar conta do partido.
Da mesma forma, estes legítimos representantes da respeitabilidade cavaquista continuam a achar que o PSD tem de ter lugar cativo na sociedade portuguesa, apenas porque sim. Sempre desprezaram a ideologia a favor de um suposto monopólio do "saber governar". Fizeram o elogio dos self-made men para depois os acusar de populismo. Fugiram das causas sociais e avisaram o seu povo para se manter afastado do "politicamente correcto". Repetiram durante anos que a iniciativa pública é incompetente e a iniciativa privada virtuosa. Lembraram que se fizermos tudo para beneficiar os investidores e os empresários, o dinamismo do mercado se encarregará de todos. Riram das graçolas de Alberto João Jardim e apresentaram-no como bom exemplo. Aliaram-se a Paulo Portas para governar o país.
Chegaram a eleger Santana Lopes, não em directas, mas num Conselho Nacional. E agora choram: mas este foi o partido que eles fizeram. Historiador
Rui Rio é elite do PSD. O corajoso Rui Rio, o implacável Rui Rio, desejava chegar a líder do PSD. Sabia que teria o partido na mão, se avançasse. Mas decidiu reservar-se para uma ocasião mais propícia e em que desse menos trabalho chegar a primeiro-ministro. Azar para ele. Durão Barroso é elite do PSD. Enquanto líder da oposição não tinha disponibilidade para saber se uma empresa como a Somague pagava dívidas de milhares de contos ao seu partido. Como primeiro-ministro, pediu sacrifícios aos portugueses e deixou o país nas mãos de Pedro Santana Lopes.
Existe a tentação de comentar a relevância da vitória de Luís Filipe Menezes. Mas qual? A relevância ainda não está lá. Há quem diga que Menezes não chega às eleições, há quem diga que ele não as ganha e há quem diga que ainda bem. Para já o que há a comentar não é a relevância da sua vitória mas a relevância da derrota dos seus adversários. Uma implica a outra, mas não são a mesma coisa.
Diz-se que as elites do PSD perderam por falta de comparência ou por acharem que tinham o partido na mão. Ambas as explicações significam isto: as elites do PSD, no fundo, não são tão elites quanto isso. Na tradição nacional, sempre esperaram que o seu lugar lhes fosse guardado e cedido: no conselho de administração como no conselho de ministros. Nos intervalos do poder, escolhiam um caseiro para tomar conta do partido.
Da mesma forma, estes legítimos representantes da respeitabilidade cavaquista continuam a achar que o PSD tem de ter lugar cativo na sociedade portuguesa, apenas porque sim. Sempre desprezaram a ideologia a favor de um suposto monopólio do "saber governar". Fizeram o elogio dos self-made men para depois os acusar de populismo. Fugiram das causas sociais e avisaram o seu povo para se manter afastado do "politicamente correcto". Repetiram durante anos que a iniciativa pública é incompetente e a iniciativa privada virtuosa. Lembraram que se fizermos tudo para beneficiar os investidores e os empresários, o dinamismo do mercado se encarregará de todos. Riram das graçolas de Alberto João Jardim e apresentaram-no como bom exemplo. Aliaram-se a Paulo Portas para governar o país.
Chegaram a eleger Santana Lopes, não em directas, mas num Conselho Nacional. E agora choram: mas este foi o partido que eles fizeram. Historiador
Rui Tavares, Público de hoje
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