Wednesday, August 30, 2006

IF

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!

Rudyard Kipling

Sunday, August 27, 2006

Zumbido



Comfortably numb

Hello, hello, hello
Is there anybody in there?
Just nod if you can hear me.
Is there anyone at home?

Come on, come on down,
I hear you’re feeling down.
Well I can ease your pain,
Get you on your feet again.

Relax, relax, relax
I need some information first.
Just the basic facts.
Can you show me where it hurts?

There is no pain, you are receding.
A distant ship's smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move, but I can’t hear what you’re saying.

When I was a child, I had a fever.
My hands felt just like two balloons.
Now I’ve got that feeling once again.
I can’t explain, you would not understand.
This is not how I am.

I have become comfortably numb.

I have become comfortably numb.

OK, OK, OK
Just a little pin prick.
There’ll be no more, aaaaaaaaaaaahhhhhhhhh,
But you may feel a little sick.

Can you stand up, stand up, stand up.
I do believe it's working good.
That’ll keep you going for the show.
Come on, it’s time to go.

There is no pain, you are receding.
A distant ship's smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move, but I can’t hear what you’re saying.

When I was a child, I caught a fleeting glimpse
Out of the corner of my eye.
I turned to look, but it was gone.
I cannot put my finger on it now.
The child has grown, the dream is gone.

I have become comfortably numb.


Roger Waters, David Gilmour - The Wall (1979)

Monday, August 21, 2006

Não é verdade

Cai, como antigamente, das estrelas
Um frio que se espalha na cidade.
Não é noite nem dia, é o tempo ardente
Da memória das coisas sem idade.

O que sonhei cabe nas tuas mãos
Gastas a tecer melancolia:
Um país crescendo em liberdade,
Entre medas de trigo e alegria.

Porém a morte passeia nos quartos,
Ronda as esquinas, entra nos navios,
O seu olhar é verde, o seu vestido branco,
Cheiram a cinza os seus dedos frios.

Entre um céu sem cor e montes de carvão
O ardor das estações cai apodrecido;
Os mastros e as casas escorrem sombra,
Só o sangue brilha endurecido.

Não é verdade tanta loja de perfumes,
Não é verdade tanta rosa decepada,
Tanta ponte de fumo, tanta roupa escura,
Tanto relógio, tanta pomba assassinada.

Não quero para mim tanto veneno,
Tanta madrugada varrida pelo gelo,
Nem olhos pintados onde morre o dia,
Nem beijos de lágrimas no meu cabelo.

Amanhece.
Um galo risca o silêncio
Desenhando o teu rosto nos telhados.
Eu falo do jardim onde começa
Um dia claro de amantes enlaçados.


Eugénio de Andrade

Sunday, August 13, 2006

Todo o Mundo

Personagens: Ninguém, Todo-o-mundo, Berzebu e Dinato.
[Estão em cena dois diabos, Berzebu e Dinato, este preparado para escrever]
Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda buscando algua cousa que se lhe perdeu. E logo após ele um homem vestido como pobre. Este se chama Ninguém, e diz:

NinguémQue andas tu i buscando
Todo o Mundo Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar,
porém ando perfiando
por quão bom é perfiar.
NinguémComo hás, nome, cavaleiro?
Todo o MundoEu hei nome Todo o Mundo,
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro,
e sempre nisso me fundo.
NinguémE eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.
Berzebu para DinatoEsta é boa experiência!
Dinato, escreve isto bem.
DinatoQue escreverei, companheiro?
BerzebuQue Ninguém busca consciência,
e Todo o Mundo dinheiro.
Ninguém para Todo o MundoE agora que buscas lá?
Todo o MundoBusco honra muito grande.
NinguémE eu virtude, que Deos mande
que tope co' ela já.
Berzebu para DinatoOutra adição nos acude:
escreve logo e a fundo,
que busca honra Todo o Mundo
e Ninguém busca virtude.
NinguémBuscas outro mor bem qu' esse?
Todo o MundoBusco mais quem me louvasse
tudo quanto eu fezesse
NinguémE eu quem me repreendesse
em cada coisa que errasse.
Berzebu para DinatoEscreve mais.
DinatoQue tens sabido?
BerzebuQue quer em extremo grado
Todo o Mundo ser louvado
e Ninguém ser repreendido.
Ninguém para Todo o MundoBuscas mais, amigo meu?
Todo o MundoBusco a vida e quem ma dê.
NinguémA vida não sei que é,
a morte conheço eu.
Berzebu para DinatoEscreve lá outra sorte
DinatoQue sorte?
BerzebuMuito garrida.
Todo o Mundo busca a vida,
e Ninguém conhece a morte.
Todo o Mundo para NinguémE mais queria o paraíso,
sem mo ninguém estorvar.
NinguémE eu ponho-me a pagar
quanto devo pera isso.
Berzebu para DinatoEscreve com muito aviso.
DinatoQue escreverei?
BerzebuQue Todo o Mundo quer paraído
e Ninguém paga o que deve.
Todo o Mundo para NinguémFolgo muito de enganar,
e mentir naceo comigo.
NinguémEu sempre verdade digo,
sem nunca me desviar.
Berzebu para DinatoOra escreve lá, compadre
não sejas tu preguiçoso!
DinatoQuê?
BerzebuQue Todo o Mundo é mentiroso,
e Ninguém diz a verdade.
Ninguém para Todo o MundoQue mais buscas?
Todo o MundoLisonjar.
NinguémEu sou todo desengano.
Berzebu para DinatoEscreve, ande la mano!
DinatoQue me mandas assentar?
BerzebuPõe aí mui declarado,
não te fique no tinteiro
Todo o Mundo é lisonjeiro,
e Ninguém desenganado.


Gil Vicente, in Auto da Lusitânia (1532)

Thursday, August 10, 2006

O lugar do começo

Primeiro havia
a noite fria
depois a terra
que o céu abraçou
e os dois eram um só
enquanto o tempo
não os separou

Depois o vento
um vento forte
soprou as cores
e imaginou
as coisas frágeis e leves
e a pouco e pouco
o mundo acordou

Não é tarde
fico em casa
conta-me tudo outra vez

Perto
longe
aonde estiver
hei-de sempre ter
um lugar
pra ti

Por fim os homens
ninfas e deuses
que percorriam
o céu e a terra
a tudo deram um nome
e os sons tocaram
as mais altas estrelas

Não é tarde
fico em casa...


Xana, O lugar do começo - Acordar - Rádio Macau

Tuesday, August 08, 2006

Jeito estúpido

Eu sei que eu tenho um jeito
Meio estúpido de ser
E de dizer coisas que podem
Magoar e te ofender
Mas cada um tem o seu jeito
Todo próprio de amar
E de se defender

Você me acusa e só me preocupa
Agrava mais e mais a minha culpa
E eu faço e desfaço, contrafeito
O meu defeito é te amar demais.

Palavras são palavras
E a gente nem percebe
O que disse sem querer
E o que deixou pra depois
Mas o importante é perceber
Que a nossa vida em comum
Depende só e unicamente de nós dois

Eu tento achar um jeito pra explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar.

Isolda/Milton Carlos