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Scott Adams, Expresso (21-10-2004)
O primeiro passo é o roubo. O segundo a imitação. O terceiro o desvio.
Je veux vous parler de l'arme de demain
Enfantée du monde, elle en sera la fin
Je veux vous parler de moi, de vous
Je vois à l'intérieur, des images, des couleurs
Qui ne sont pas à moi, qui parfois me font peur
Sensations qui peuvent me rendre fou
Nos sens sont nos fils
nous pauvres marionnettes
Nos sens sont le chemin qui mène droit a nos têtes
La bombe humaine, tu la tiens dans ta main
Tu as l'détonateur juste à côté du cœur
La bombe humaine
C'est toi, elle t'appartient
Si tu laisses quelqu'un prendre en main ton destin, c'est la fin, la fin
Mon père ne dort plus sans prendre ses calmants
Maman ne travaille plus sans ses excitants
Quelqu'un leur vend de quoi tenir le coup
Je suis un électron, bombardé de protons
Le rythme de la ville, c'est ça mon vrai patron
Je suis chargé d'électricité
Si par malheur, au cœur de l'accélérateur
J'rencontre une particule qui m'mette de sale humeur
Oh, faudrait pas que j'me laisse aller
Faudrait pas que j'me laisse aller, non
La bombe humaine, tu la tiens dans ta main
Tu as l'détonateur juste à côté du cœur
La bombe humaine,
C'est toi elle t'appartient
Si tu laisses quelqu'un prendre en main ton destin, c'est la fin
Bombe humaine, c'est l'arme de demain
Bombe humaine, tu la tiens dans ta main
Bombe humaine
C'est toi, elle t'appartient
Si tu laisse quelqu'un prendre ce qui te tient, c'est la fin, la fin
Jean-Louis Aubert, Crache ton Venin (1979) - Téléphone
(...)
Para ter algum préstimo, a Academia (das Ciências de Lisboa) devia denunciar a verborreia que de facto usamos e não devíamos.
É recorrente, é fácil, o gozo devotado ao jargão do futebol (o famoso "futebolês", já de si um neologismo imbecil). E o resto? E quem se preocupa com o imenso jargão em que toda a língua parece transformada, repleta de incorrecções semânticas, chavões, vocábulos fora do contexto e puros disparates?
É que não há paciência para a exposição "patente" no "multiusos", a qual, aliás, se "insere" numa "dinâmica" de "cariz" cultural. Não há paciência para autarcas que "fazem cidade" com grande "empenhamento", "nomeadamente", claro, "ao nível" das "sustentabilidades". Não há paciência para médicos que nos mandam "fazer Aspirina" e "fazer gelo" como se fôssemos um laboratório farmacêutico ou uma arca frigorífica. Não há paciência para escritores que "investem" na "vertente" dos "afectos". Não há paciência para cançonetistas cujo último disco "reflecte" determinadas "vivências". Não há paciência para "programadores" televisivos que "apostam" na "multiplicidade" dos "conteúdos". Não há paciência para "vipes" que, talvez para "serem iguais a si próprios", precedem cada grunhido com um "é assim". E não há paciência para governantes que anunciam "desígnios", para deputados que "assumem desafios", e para reles peões partidários que vêem o mundo através da sua "óptica".
Ou seja, "em termos" de Português, não há português em termos. Descemos do idioma de António Vieira a uma babugem retorcida e ridícula.
(...)
Alberto Gonçalves, Sábado (edição de 4 de Maio) pág. 98
C'est étrange,
je n'sais pas ce qui m'arrive ce soir,
Je te regarde comme pour la première fois.
Encore des mots toujours des mots
les mêmes mots
Je n'sais plus comment te dire,
Rien que des mots
Mais tu es cette belle histoire d'amour...
que je ne cesserai jamais de lire.
Des mots faciles des mots fragiles
C'était trop beau
Tu es d'hier et de demain
Bien trop beau
De toujours ma seule vérité.
Mais c'est fini le temps des rêves
Les souvenirs se fanent aussi
quand on les oublie
Tu es comme le vent qui fait chanter les violons
et emporte au loin le parfum des roses.
Caramels, bonbons et chocolats
Par moments, je ne te comprends pas.
Merci, pas pour moi
Mais tu peux bien les offrir à une autre
qui aime le vent et le parfum des roses
Moi, les mots tendres enrobés de douceur
se posent sur ma bouche mais jamais sur mon cœur
Une parole encore.
Parole, parole, parole
Ecoute-moi.
Parole, parole, parole
Je t'en prie.
Parole, parole, parole
Je te jure.
Parole, parole, parole, parole, parole
encore des paroles que tu sèmes au vent
Voilà mon destin te parler....
te parler comme la première fois.
Encore des mots toujours des mots
les mêmes mots
Comme j'aimerais que tu me comprennes.
Rien que des mots
Que tu m'écoutes au moins une fois.
Des mots magiques des mots tactiques
qui sonnent faux
Tu es mon rêve défendu.
Oui, tellement faux
Mon seul tourment et mon unique espérance.
Rien ne t'arrête quand tu commences
Si tu savais comme j'ai envie
d'un peu de silence
Tu es pour moi la seule musique...
qui fit danser les étoiles sur les dunes
Caramels, bonbons et chocolats
Si tu n'existais pas déjà je t'inventerais.
Merci, pas pour moi
Mais tu peux bien les offrir à une autre
qui aime les étoiles sur les dunes
Moi, les mots tendres enrobés de douceur
se posent sur ma bouche mais jamais sur mon cœur
Encore un mot juste une parole
Parole, parole, parole
Ecoute-moi.
Parole, parole, parole
Je t'en prie.
Parole, parole, parole
Je te jure.
Parole, parole, parole, parole, parole
encore des paroles que tu sèmes au vent
Que tu es belle !
Parole, parole, parole
Que tu est belle !
Parole, parole, parole
Que tu es belle !
Parole, parole, parole
Que tu es belle !
Parole, parole, parole, parole, parole
encore des paroles que tu sèmes au vent
Paroles et Musique: Michaele, M.Chiosso, G.Ferrio 1973
Levando um velho avarento
Uma pedrada num olho,
Pôs-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.
Certo doutor, não das dúzias,
Mas sim médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.
«Dez moedas! ( diz o avaro )
Meu sangue não desperdiço:
Dez moedas por um olho!
O outro dou eu por isso.»
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Apesar de todo o respeito que parecemos ter por tudo o que está sujeito a perecer, acostumámo-nos facilmente à matança. Beneficiamos de certa maneira desse matança e quase não temos pena das vítimas. Isto não começou com a guerra, já estávamos preparados muito antes de ela começar; só agora parece mais aparente. Não nos retraímos ao ver tantas vidas desaparecerem; nem esses que morreram teriam sofrido alguma coisa se fôssemos nós as vítimas. Não gosto de pensar no que nos governa. Não gosto de pensar nisso. Não é fácil e é perigoso. O menos que nos pode revelar é que os nossos sentidos e a nossa imaginação não são totalmente competentes. O velho Joseph, que, perante a transitoriedade da vida, se opunha ao bater e ao rasgar, disse que lamentava que, com a melhor das boas vontades do mundo, uma pessoa tinha que repartir pelos outros o seu quinhão de escoriações... Escoriações! Que inocência! Sim; ele reconhecia que mesmo os que queriam ser pacíficos não podiam deixar de fustigar os outros. E isto era muito pouco.
Estamos, contudo, como povo, preocupados com a efemeridade; há imensos frigoríficos. Mandam-se gatos de estimação a centenas de quilómetros de distância para serem tratados com soros raros; e os vizinhos de uma aldeia de Arcansas fazem turnos, dia e noite, para salvar a vida de um nonagenário.
Morre Jeff Forman; o meu irmão Amos guarda um arsenal de calçado para o futuro. Amos é bom. Amos não é nenhum canibal. Não pode ouvir dizer que estou em dificuldades, que preciso de dinheiro, que me recuso a preocupar-me com o meu futuro. Jeff, debaixo do mar, está para além da virtude, do valor, do brilho, do dinheiro ou do futuro. Digo estas coisas incapaz de ver ou pensar claramente e o que sinto não é tanto injustiça ou desumanidade como perturbação.
Eu próprio preferia morrer na guerra que consumir os seus benefícios. Irei quando me chamarem e não protestarei. E, é claro, espero sobreviver. Mas antes queria ser vítima do que beneficiar da guerra. Sustento a guerra, embora talvez seja gratuito dizer isto; temos o hábito de fazer com que estas coisas sejam o resultado da moral pessoal ou da vontade própria, o que não são de maneira nenhuma. O equivalente seria dizer que, se Deus realmente existisse, sim, Deus existe. Ele existiria, quer o reconhecêssemos ou não. Mas entre o imperialismo deles e o nosso, se fosse possível uma opinião clara, preferiria o nosso. As alternativas, especialmente as alternativas desejáveis, só crescem em árvores imagináveis.
Sim, eu atirarei, matarei; serei alvejado, e morrerei. Trocar-se-á sangue por meias razões, como em todas as guerras. De qualquer maneira não consigo encontrar um erro contra mim próprio.
Saul Bellow - Na corda bamba - Publicações Dom Quixote (1976) pág.83
Com eterno retorno, em que se tornou a vida portuguesa, volta a leitura, desta vez com um "plano". Pôr a criançada a ler e o público em geral. Muito bem. A ler o quê? Os "clássicos", dizem. Mas que espécie de "clássicos"? Gil Vicente, Camões, Vieira, Garrett, Camilo, Eça, Oliveira Martins, Cesário, Pessoa? Infelizmente, não há "clássicos" que se possam ler: tirando a poesia (um caso complicado), um pouco de Eça, de Camilo e Oliveira Martins, quanto muito. E o inevitável Júlio Dinis, se conseguir passar por "clássico" e se alguém hoje o aturar. O facto é que a literatura portuguesa é pobre. Ainda por cima, os "protegidos" do "plano" não a percebem: nunca viram grande parte das palavras, tropeçam na sintaxe, ignoram as referências. Pegue, por exemplo, um dos promotores do "plano" em, por exemplo, Viagens na Minha Terra ou A Relíquia e explique o que lá está (um centésimo basta). Gostava de assistir.
Não conheço muita gente, gente da minha idade, que leia, apesar de uma educação tradicional. Porquê? Porque ler implica um esforço: de atenção, de inteligência, de memória. Ler é uma actividade e a nossa cultura é quase inteiramente passiva. A televisão, o DVD, a música popular ou a conversa de computador não exigem nada, deixam a pessoa num repouso imperturbado e bovino. Mudar isto equivale a mudar o mundo. Não se faz com um "plano". Claro que o romance de aeroporto se continua a vender, e bem: não puxa pela cabeça e vai matando o tempo. Talvez que Miguel Sousa Tavares (300 mil exemplares só em Portugal, mandou ele corrigir) e Margarida Rebelo Pinto levem a melhor. O Estado missionário não leva com certeza a parte alguma. Ou leva, leva a uns milhares de empregos para burocratas, bibliotecários, "mediadores de leitura" (um truque novo) e para a tropa fandanga do costume.
José Manuel Fernandes lamenta que os portugueses não leiam jornais, sentimento que do coração partilho. Mas também não existe em Portugal uma verdadeira discussão política (nem no Parlamento). A sério, a sério, não se discute coisíssima nenhuma: nem o regime, nem a ideologia do regime, nem religião, nem moral, nem moral social, nem sequer os deploráveis costumes da tribo. Porque iria um cidadão comprar sofregamente o jornal? E por que raio de lógica ler Eça e Camilo (que, de resto, execravam jornalistas) convenceria um adulto (ou uma criança) da bondade da imprensa? Desde o "25 de Abril", Portugal sofreu uma série infinita de obras de misericórdia, para chegar ao poço. É altura de acabar com a brincadeira.
Vasco Pulido Valente - Jornal Público - de 3 de Junho de 2006