Wednesday, May 30, 2007

Monangamba

Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;

Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho - cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.

O café vai ser torrado,
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Perguntem às aves que cantam
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo?
Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?

Quem capina e em troca recebe desdém,
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares,
"porrada se refilares"?

Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
Quem?

Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande, ter dinheiro?
Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras,
deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras:
- "Monangambééé..."

António Jacinto - poeta angolano

Friday, May 25, 2007

Estupidamente solidário

A inteligência e a insolidariedade andam de mãos dadas, na maior parte dos casos

Lembro-me bem que a seguir ao 25 de Abril, quando havia problemas, ninguém conhecia muito bem ninguém. A regra seguida era, as mais das vezes, "não me comprometam, que eu mal conheço a criatura".

A minha família esteve envolvida politicamente no 25 de Abril (antes e depois). Como muitas outras, teve problemas especialmente ao opor-se de forma activa à tentativa de desvio antidemocrático (e muitas vezes o foram). Mas o meu Pai tinha uma teoria interessante: devemos, nos momentos difíceis, procurar aliados com fortes princípios, mas não demasiadamente inteligentes. Quem é muito inteligente consegue sempre imaginar uma boa razão para não ser amigo e faltar à solidariedade pessoal sem, ilusoriamente, ferir os princípios. Essa justificação é não só uma desculpa para si próprio, mas também para os outros. Note-se que, também, não tem que ser uma atitude consciente, mas uma reacção instintiva de se pôr de fora: "Eu não me meto nos problemas dos outros", "realmente o que lhe têm vindo a fazer é chato, mas ele perdeu a razão na forma como reagiu"...

Com menos dramatismo, esta regra mantém-se verdadeira no nosso dia-a-dia. Podemos confiar em pessoas com fortes princípios e QI mediano, embora, também, não muito baixo; caso contrário, nem percebe o que se está a passar. Evidentemente que me orgulho de conhecer excepções a esta regra, mas conheço mais exemplos da sua veracidade, infelizmente.

É claro que na amizade há sempre uma dose de loucura que não se compadece com calculismos. Apoiar um tipo que está na mó de baixo é sincero; apoiar um ganhador também pode ser sincero, mas fica sempre a dúvida tanto em nós mesmos como nos outros.

A consciência desta regra, quase-sempre-verdadeira, levou-me a gostar de estar, por princípio, com a minoria. Para apoiar a maioria, em qualquer circunstância, penso sempre duas vezes se não estou a seguir o caminho fácil. Não faz de mim um homem feliz, mas um homem em paz e que não se envergonha de se ver ao espelho. É também por isso que sou da Académica, quando podia ser do Benfica ou do Porto, que ganham tudo. E porquê? Porque sim. Por que é que se é amigo de um amigo? Porque sim, é tudo.

Além disso, as opções morais no quotidiano raramente são decisões simples. O Judas é historicamente o estereótipo do traidor, embora, para mim, a ideia de ele se vender por 30 dinheiros seja factualmente difícil de admitir, por ser simples de mais. Será que Cristo escolheu um tipo tão mal formado que, tendo-O conhecido, O foi vender na primeira oportunidade? De qualquer forma, sujeitos que sejam iguais a este Judas não se encontram assim tão facilmente. O mundo real é muito mais subtil. E nem sempre estamos atentos.

Talvez até a história de Judas fosse algo diferente, mas nunca saberemos. Ainda há pouco foi publicado um romance curioso (mas não dramaticamente interessante, saliente-se) - O Evangelho segundo Judas - que nos dá uma interpretação alternativa. Alguém inteligente e que "trai", porque deseja ajudá-Lo, é transformado em bode expiatório, sendo os outros os verdadeiros traidores e, em especial, Pedro, que O negou três vezes.

Outra face desta moeda é o "empurrar de responsabilidades". Lembro-me, a propósito, de uma pequena história (que pode ficar como curiosidade para a História da guerra em África). Uma noite, talvez em 1972, quando me ia deitar, o meu Pai pediu-me para ficar com ele, porque havia algo de importante que iria acontecer lá para as duas da manhã. O caso era simples: tinha havido uma ofensiva em Angola e as nossas tropas estavam com problemas graves de munições, morteiros, granadas... A Força Aérea tinha-o informado, como chefe de gabinete do chefe do Estado-Maior, de que havia um 707 pronto a partir às duas da manhã, mas em sobrecarga ("as luzes vermelhas a piscar").

Com uma equipagem totalmente voluntária, o avião, dados os ventos, tinha que levantar voo sobre Lisboa. O perigo era evidente e queriam autorização superior. "Então perguntaste ao "chefe"?", inquiri. "Não, mandei eu próprio avançar; ele não poderia dizer outra coisa e, assim, se houver problema, a culpa é minha, ele pode dizer que não foi consultado." Como todos sabemos, correu bem e às duas da manhã vimos, da janela da nossa casa em Alvalade, a voar baixinho, o 707 sem problemas. Mas esta ideia de responsabilidade pessoal e institucional ficou-me marcada. Para o homem-económico dos modelos académicos, era o calculismo a funcionar contra o próprio, era um absurdo. Para os modelos da psicologia, é um comportamento de cidadania organizacional.

Penso que, sem darmos por isso, Deus ou o destino nos coloca todos os dias situações em que temos de escolher entre ser responsáveis, solidários e amigos ou sabiamente fugir às nossas responsabilidades. Sermos solidários é sê-lo por razões pouco inteligentes, ou seja, sem termos nada a ganhar, a não ser o respeito por nós próprios. É assim a vida e cada um escolhe a sua.

Luís Campos e Cunha, Público de 25.05.2007

Sunday, May 13, 2007

O que faz a famosa auto-estima xis ...

Os jornalistas devem confirmar a veracidade da informação que divulgam. É uma forma de evitar enganar os outros.
O texto "A coragem de Pessoa", publicado (caderno P2, pág. 4) no passado dia 13 de Abril, não passou despercebido.

Escreve Laurinda Alves:

"Deixo aqui o texto inspirador de Fernando Pessoa que foi lido em voz alta neste fim de tarde inesquecível.

Posso ter defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir
um castelo..."

Alguns leitores questionam a autoria do "texto inspirador".
"(...) Pretendo ser discreto e não quereria ofender a senhora jornalista, que transborda de boas intenções e a quem desejo (como à maior parte das pessoas...) que seja muito feliz assim - ainda que, em semelhantes circunstâncias, me ocorra, com insistência, um brevíssimo conto de Voltaire sobre espécies de felicidade... Mas tenho bastante dificuldade em imaginar que um tal acervo de banalidades, mesmo muito bem intencionadas e inspiradoras, alguma vez se tenha encontrado com a complexa intelectualidade de Pessoa, nem mesmo em momento de ternurenta elaboração de uma carta para a Ophélinha. Além de que, literariamente, o textinho é muito pobrezinho... e isso, nem nas cartas para a Ophélinha! Acresce ainda que é basto notória a genealogia brasileira do escrito, com formulações sintácticas que, se hoje desgraçadamente contaminam a escrita deste lado do Atlântico, no tempo de Pessoa não eram sequer usadas na outra margem do dito, ao menos nos meios literários...
Como é que ninguém se apercebe disto?!
Temo que, ao publicar o textinho, sem que ninguém notasse a incongruência, o PÚBLICO lhe dê uma legitimidade inesperada (ainda se acredita no que vem nos jornais de referência), uma caução cultural reforçada, que sustente a convicção (sempre bem intencionada, com boa onda e muito karma) dos que continuam a não entender que a Net é um recurso muito importante, mas também muito perigoso, pois muito do que por ela viaja não tem qualquer validação...
Será que vou deparar com uma rectificação numa das próximas edições do PÚBLICO?
É claro que, se algum especialista em Fernando Pessoa me disser de que arca ou baú surgiu esta prosa, prometo que irei de burel e baraço em romagem ao Altar da Ignorância. E aceitarei, finalmente, como provado que o poeta uma ou outra vez abusaria do álcool e... não resistiria, mesmo assim, a escrever...", escreve Paulo Rato, um leitor de Queluz.
O texto suscitou mais interrogações.
"É citado um poema pretensamente de Fernando Pessoa ("A coragem de Pessoa", sem referência bibliográfica), cuja autenticidade me deixa dúvidas.
Uma frase como: "agradecer a Deus a cada manhã" não me parece que tenha saído da caneta do Mestre. Mas admito estar totalmente enganada, pelo que muito grata ficaria se me fornecessem a referência específica: qual o heterónimo, qual a data, qual a "arca" donde extraíram o poema", escreve Fernanda Jesuíno.
A solicitação da leitora é legítima.
"Já não é a primeira vez que me cruzo com esse texto (na altura foi-me enviado por e-mail), e já nessa altura tive a nítida impressão de que não é coisa que Pessoa fosse escrever. Não é estilo (ou estilos) dele. Não é o tema dele. Penso aliás que não é nada dele e o facto de o ver hoje preto no branco no PÚBLICO numa coluna de alguém que respeito e que a priori até confio saiba mais de Fernando Pessoa que eu, não me fez mudar de ideia.
No entanto, não encontro informação na Net que me suporte. Até porque esse texto está reproduzido incontáveis vezes e sempre colado ao nome de Fernando Pessoa. Não tenho mais a quem recorrer, a não ser que escreva para a Casa Fernando Pessoa, coisa que já estive mais longe de fazer. A única coisa que encontrei foi na Wikipédia, mas isso vale o que vale. Fica aqui transcrito: "Pedras no caminho? Eu guardo todas. Um dia vou construir um castelo."
Sentença tipicamente atribuída a Fernando Pessoa na Internet, ainda que nunca tenha sido escrita por ele, e sim por Nemo Nox, bloguista brasileiro.
(http://pt.wikiquote.org/wiki/Fernando_Pessoa)
Confio no seu juízo para avaliar a pertinência do meu comentário", escreve Daniel Marinha (do blogue www.quotidianidades.blogspot.com).
O comentário é pertinente.
"Mundo Pessoa" (blogue institucional da Casa Fernando Pessoa) apresentou três dias depois o "post" "Agarra que é apócrifo!": "Leonor Areal, no (blogue) Doc Log chama a atenção para coisas que é importante ler esclarecidas." (http://www.mundopessoa.blogspot.com/)
Eis o comentário de Leonor Areal: "(...) Laurinda Alves, em dia de azar, publica um texto supostamente de Fernando Pessoa, apócrifo evidentemente. Está à vista de qualquer um que conheça a obra de Pessoa que aquele poema piroso nunca podia ser dele, e ainda por cima com pronome reflexo colocado à moda brasileira: "Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história". Um idiota qualquer o escreveu, (...)" ("Fernando Peçonha" in http://doc-log.blogspot.com/2007/04/fernando-peonha.html)
É muito provável que a prosa corresponda a dois textos de autores diferentes. O bloguista brasileiro Nox poderá ser um deles: "No início de 2003, chateado com os obstáculos que encontrava e tentando ser um pouco otimista, escrevi aqui estas três frases: "Pedras no caminho? Eu guardo todas. Um dia vou construir um castelo." Não pensei mais nisso até que recentemente comecei a receber e-mails pedindo que eu confirmasse ser o autor do trechinho. Aparentemente, o trio de frases tomou vida própria e se espalhou pela Internet lusófona com variações na pontuação e na atribuição da autoria. (...) Depois alguém resolveu pegar um poema (possivelmente de Augusto Cury, autor de Dez Leis para Ser Feliz), colar o tal trechinho no fim e distribuir tudo como se fosse obra do Fernando Pessoa. Não demorou muito para que as minhas três frases começassem a pipocar pela rede atribuídas ao poeta português (afinal, é sempre mais bacana citar um famoso escritor luso que um quase desconhecido blogueiro brasileiro). Cheguei eu mesmo a duvidar da minha autoria. Poderia ter cometido um plágio inconsciente, recolhendo da memória alguma coisa lida no passado e achando que se tratava de material original? Revirei os poemas pessoanos em busca de pedras e castelos mas não consegui encontrar qualquer coisa remotamente parecida ao trecho em questão. Vasculhei os heterônimos e tampouco achei o guardador de pedras. (...) Outra coisa engraçada é que nem me sinto orgulhoso de ter escrito isso, parece-me hoje até um pouco piegas, como aqueles cartazes motivacionais com fotos bonitas e frases otimistas." (in www.nemonox.com/ppp/archives/2006_03.html#008119)
O psiquiatra Augusto Cury (autor de O Mestre do Amor, A Ditadura da Beleza ou O Futuro da Humanidade) não confirma a autoria da outra parte.
O provedor contactou, portanto, a Casa Fernando Pessoa.
"O poema em questão não é de Fernando Pessoa, coisa que poderia ser garantida à primeira leitura (pelo tema, pela escrita, pela ortografia). No Brasil, tanto na Web como em papel impresso, circulam vários "poemas apócrifos" assinados por Fernando Pessoa; muitas vezes, os seus autores pretendem garantir algum reconhecimento anónimo através da utilização do nome do poeta - são, geralmente, textos de má qualidade e que, infelizmente, se multiplicam todos os dias. Qualquer "leitor mediano" da obra de Pessoa ou dos seus heterónimos se dá conta da mistificação e da falsificação. Fernando Pessoa não diz semelhantes patetices", esclareceu Francisco José Viegas, escritor e director da Casa Fernando Pessoa.
Pedi, por outro lado, um esclarecimento a Laurinda Alves: "Agradeço sinceramente o contributo dos leitores e dos especialistas para desfazer um equívoco que não era só meu e, por isso, podia ser perpetuado. Aqui ficam os textos e as cartas, escritos em vários tons, a desfazer todas as dúvidas. Verifico, com surpresa, que ainda há pessoas que vivem convencidas de que nunca se enganam nem se deixam enganar."
Laurinda Alves reconhece o erro.
O provedor considera que os jornalistas devem confirmar a veracidade da informação que divulgam. É uma forma de evitar enganar os outros. O resto é conversa...

Rui Araújo Provedor do leitor do Público em 13.05.2007

Thursday, May 03, 2007

Parabéns Agualusa

O escritor angolano acaba de receber o Independent Foreign Fiction Prize, no valor de 15 mil euros, com O Vendedor de Passados

Enquanto José Eduardo Agualusa lê a abertura de O Vendedor de Passados, numa National Portrait Gallery esgotada e silenciosa, tento imaginar que sou uma das outras pessoas que ali está. Uma dos outros, aqueles que não entendem o que Agualusa diz; os outros, aqueles que não falam português. Tento ficar calada por dentro, não responder ao que ouço. Deixar a língua escorregar dos sentidos, tornar-se esquiva. Perco-a em momentos sucessivos, caem substantivos: janela; verbos: vi. Até que não sei o que quer dizer O Vendedor de Passados; O Vendedor de Passados são Ss cujas pontas se atam umas às outras, são Rs bicho-de-conta, pronunciados para dentro de si mesmos.
Eu acho uma maravilha em Londres andar de autocarro e de metro a escutar línguas em ponto de rebuçado musical; mas ontem fiquei a pensar que talvez seja ave rara. Aos ingleses, não os vejo a virar estrategicamente os ouvidos seduzidos pelo que não podem entender. Aos britânicos não os vemos a correr para as livrarias por um escritor estrangeiro. Agualusa está nos três por cento de autores traduzidos para o mercado britânico. Depois, está nos três por cento dos três por cento dos três por cento seleccionados para o prémio patrocinado pelo The Independent que distingue literatura em tradução. E indo às milésimas das percentagens, Agualusa ganhou.
Agualusa termina. Não sei o que leu, mas digo-vos: é lindíssimo. Na National Portrait Gallery desfaz-se o silêncio da incompreensão, ou como é mais bonito observar, do mistério.
Agualusa sai do pódio com a sua língua misteriosa, e dá lugar a Daniel Hahn, o tradutor, que terá uma audiência, então, que ri e acena cabeças de acordo. Este prémio também é para ele (50/50), o desembaraçador de mistérios.
Foi uma noite feliz. Fiquei feliz pelo Agualusa, mas tenho que confessar, fiquei muito mais feliz por mim própria. Foi como se também eu tivesse ganho um prémio.
Acho que estou em Londres há tempo demais - tempo, pelo menos, suficiente para ter começado a duvidar da minha própria língua. O meu prémio, ontem, foi fazer as pazes com a minha língua. Aproveitem a oportunidade todos os que andam zangados com a língua portuguesa (que os há, há, neste mundo-anglo-saxónico-cêntrico). Não consigo pensar em ninguém melhor para curar-nos de complexos. Agualusa é "o" escritor de língua portuguesa, o escritor migrante do português - de Angola para Portugal, de Portugal para o Brasil, do Brasil de volta a Angola, usando todas as combinações triangulares possíveis.
Agualusa, sempre gentil e charmoso, independentemente da língua de conversação, não perdeu a compostura. Eu perdi. Vim para casa com um sorriso exclusivo, atirando-o no metro aos outros, os que não falam a minha língua. Os que não lêem a minha língua, nem em tradução. Não sabem o que perdem.

Susana Moreira Marques, Público de 03.05.2007

Easy to Be Hard

How can people be so heartless
How can people be so cruel
Easy to be hard
Easy to be cold

How can people have no feelings
How can they ignore their friends
Easy to be proud
Easy to say no

And especially people
Who care about strangers
Who care about evil
And social injustice
Do you only
Care about the bleeding crowd?
How about a needing friend?
I need a friend

How can people be so heartless
You know I'm hung up on you
Easy to give in
Easy to help out

And especially people
Who care about strangers
Who say they care about social injustice
Do you only
Care about the bleeding crowd
How about a needing friend?
I need a friend

How can people have no feelings
How can they ignore their friends
Easy to be hard
Easy to be cold
Easy to be proud
Easy to say no

HAIR