Ao folhear com entusiasmo e ingenuidade a versão inglesa de certo filósofo chinês, dei com esta memorável passagem:
A um condenado à morte não lhe importa bordejar um precipício, porque renunciou à vida.
Neste ponto, o tradutor colocou um asterisco e advertiu-me que a sua interpretação era preferível à de outro sinólogo rival que traduzia desta maneira:
Os utilizadores destroem as obras de arte, para não terem de julgar as suas belezas e os seus defeitos.
Então, como Paolo e Francesca, deixei de ler. Um misterioso cepticismo tinha-se apoderado da minha alma.
J. L. Borges
Pablo de Santis, A tradução (Asa, 2000 - pag.7)
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