Eu nunca perguntei a nenhum psiquiatra ou psicólogo - Deus me livre de semelhante atrevimento - em que consistia o seu trabalho, evidentemente. Mas são eles que sistematicamente se empenham em explicar-me qual é a sua função, quais as sua obrigações, quais os seus desafios na construção de um homem melhor no século XXI. É incrível. Entramos no consultório e, antes de nos perguntarem como estamos ou como nos corre a vida, já nos estão a dizer coisas como: «Um psicólogo não é ninguém importante, é apenas esse amigo com quem nos atrevemos a falar.» Mas quando já estamos há algum tempo com eles, também nos podem dizer coisas como: «Olhe, a minha função como psicólogo não é a de dizer-lhe tudo o que quer ouvir»; ou: «Você engana-se se pensa que eu só estou aqui para lhe passar as receitas.»
Eu creio que no fundo estas pessoas têm um problema de identidade e que todas elas necessitariam de um tratamento psicológico, se eventualmente conseguissem pôr-se de acordo sobre o que isso significa. Pela minha parte, desisti há muito tempo de obter uma ideia clara sobre a Ordem e preferi agarrar-me à ideia que já tinha do psiquiatra como a pessoa que cura as doenças mentais, mesmo que eles não parem de me dizer o contrário, ou o contrário do contrário.
Rodrigo Muñoz Avia, Ambar, 2006 (início do capítulo 3)
3 comments:
nem mesmo "Eles" estão imunes à patologia narcísica...tal como os médicos também são doentes.
E um 2007 tão lúcido e criativo como este que se finda! Um abraço
Ah... que saudades de ler pela primeira vez este livro. E nos livros sim, não há leitura como a primeira!
Permitam-me de discordar totalmente! Obviamente que um psicólogo ou Psiquiatra pode também sofrer, assim como os médicos não estão imúnes, mas daí a dizerem isso....
Seja como for estpu interessada em ler o livro...
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